*por: Willian Menq.
Discussão diverge opiniões entre os pesquisadores. Como sabemos, o termo "aves de rapina" agrupa aves de várias famílias de linhagens evolutivas distintas, que compartilham determinadas características e adaptações para a caça ativa, como o bico curvo e afiado, garras fortes, voo poderoso, além de uma excelente visão e audição.
Justamente por não serem caçadores e não apresentarem algumas dessas características (bicos e garras fortes), alguns autores simplesmente não consideram os urubus no grupo das rapinas.
Discussão diverge opiniões entre os pesquisadores. Como sabemos, o termo "aves de rapina" agrupa aves de várias famílias de linhagens evolutivas distintas, que compartilham determinadas características e adaptações para a caça ativa, como o bico curvo e afiado, garras fortes, voo poderoso, além de uma excelente visão e audição.
Justamente por não serem caçadores e não apresentarem algumas dessas características (bicos e garras fortes), alguns autores simplesmente não consideram os urubus no grupo das rapinas.
A classificação científica dos urubus também é motivo de discussão entre os especialistas. Eles já foram colocados como parentes dos falcões gaviões, em uma família dentro da ordem Falconiformes e também já foram classificados como cegonhas mais especializadas, junto à ordem Ciconiiformes. No entanto, análises mais recentes baseadas no compartilhamento de genes e características morfológicas entre as espécies indicam que os urubus formam um grupo singular, com ordem à parte (Cathartiformes), cujos parentes mais próximos seriam as águias e os gaviões (Accipitriformes) (ver Hackett et al. 2008).
De fato, os urubus não possuem todas as características do grupo. Suas garras não funcionam como ferramentas para segurar e matar suas presas, como nos accipitrídeos. Alguns até caçam (ou tentam caçar) ocasionalmente (postagem do tema aqui). O bico também não é muito forte e afiado, a maioria das espécies tem muita dificuldade em abrir ou rasgar carcaças, usando orifícios dos cadáveres ou partes já abertas para retirada de pedaços e vísceras. Por outro lado, os urubus possuem várias outras características de aves de rapina, possuem uma excelente visão (enxergando carcaças em solo a grandes distâncias), ótima audição, boa capacidade de voo (planam alto, aproveitando térmicas, por vezes compartilhando com gaviões e águias), além de possuir muitas evidências genéticas que os colocam como ordem irmã dos gaviões e das águias. Todas essas características morfológicas, ecológicas, além das evidências genéticas, caracterizam os urubus como aves de rapina.
Dizer que uma espécie precisa ser uma caçadora ativa para pertencer ao grupo dos rapinantes é extremamente errado. Nem todas as aves de rapina caçam, vejam os abutres do Velho Mundo por exemplo, que são autênticas aves de rapina (na mesma família das águias), especializadas no consumo de animais mortos. Até predadoras autênticas, como a águia-cinzenta (Urubitinga coronata), pode ocasionalmente consumir cadáveres. Alguns rapinantes também são bastante generalistas, como o caracará (Caracara plancus), que aproveita de todas as fontes possíveis, desde frutos, invertebrados até cadáveres de animais atropelados.
Além disso, é importante mencionar que a maioria dos especialistas em rapinantes do Brasil e do mundo consideram os urubus aves de rapina. Instituições de referência com a famosa Peregrine Fund, ou a Raptor Research Foundation (responsável pelo respeitado período científico “Journal Raptor Research”) incluem os urubus nas aves de rapina.
Publicações e livros como o Raptor of the World (2001), dos autores Ferguson-Lees & Christie (uma das maiores referências sobre aves de rapina da atualidade), também classificam os urubus como aves de rapina. No Brasil, um grupo de especialistas convidados pelo ICMBio também incluíram os urubus no plano de ação para conservação das aves de rapina, elaborado em 2008.
Por fim, também considero os urubus como aves de rapina, independentemente de qual ordem ou família estiverem classificados. Acho muito positivo colocar os urubus no grupo, dessa forma eles são inclusos em estudos específicos, levantamentos e planos de ações específicos, contribuindo com a biologia e a conservação desses rapinantes necrófagos.
Para alguns autores só há um rapinante na foto, já para mim e para a a maioria dos especialistas do grupo, há dois: o gavião-caboclo (H. meridionalis) e os urubus-de-cabeça-amarela (C. burrovianus) |
Versão completa deste texto, incluindo as citações, pode ser baixada em PDF no link:
http://www.avesderapinabrasil.com/arquivo/artigos/urubus_rapinas.pdf
http://www.avesderapinabrasil.com/arquivo/artigos/urubus_rapinas.pdf
Quer saber mais sobre os urubus do Brasil? Leia esse artigo
http://www.avesderapinabrasil.com/materias/urubusbrasileiros.htm
Sobre a definição das aves de rapina:
Excelente nota comparto totalmente tu opinión, saludos!
ResponderExcluirInteressante a discussão e dá uma boa prosa de conversa em rodas de observadores de aves, ornitólogos e afins.
ResponderExcluirHaha, pois é Marcelino, também acho! E espero que o resultado desses papos sejam "urubus são aves de rapina"! :D
ExcluirNa minha cidade o urubu de cabeça preta e caracará predão filhotes de porcos.
ResponderExcluir