4 de outubro de 2016

Falcão-tanatau (Micrastur mirandollei) é redescoberto na Mata Atlântica

Foto: Wagner Coppede.
Nesta semana a ornitologia brasileira foi presenteada com uma notícia fantástica, a redescoberta do falcão tanatau (Micrastur mirandollei) na Mata Atlântica.

O incrível registro foi realizado pelos observadores de aves Wagner Coppede, Susana Coppede e Justiniano Magnago na Reserva Natural Vale, Linhares/ES, em maio deste ano, publicado a poucos dias no Wikiaves. Segundo os autores, a ave foi visualizada cruzando em voo rápido uma pequena estrada próxima da sede da reserva.


O registro fotográfico não deixa dúvidas na identificação, o capuz cinza-escuro, a área amarela nua na face e a íris escura em tons castanho-esverdeado, é suficiente para diferenciá-lo do Harpagus diodon (que possui íris avermelhada) e do Accipiter poliogaster macho (de íris amarela ou laranja).

Trata-se de um registro importantíssimo, o falcão não era registrado a décadas na Mata Atlântica, considerado até extinto do bioma, conhecido por dois registros antigos nas matas de baixada do sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Apesar de também ocorrer na região amazônica e na América Central, pouco se sabe sobre sua biologia, é um verdadeiro “fantasma” das florestas, de comportamento bastante discreto e de difícil observação, normalmente habitando a parte mais alta da floresta.

O local que o falcão foi observado é um “hotspot” para observação de aves, muito visitado por birdwatchers e fotógrafos de aves. O registro demonstra como espécies crípticas e estritamente florestais conseguem passar despercebidas pelos observadores de aves e ornitólogos, podendo passar décadas sem serem detectadas em uma determinada área. Outro exemplo disso é o falcão-críptico (Micrastur mintoni), que estava em uma situação bem parecida com a do M. mirandollei nas florestas capixabas. A ave estava sem registros no bioma a quase 35 anos, até que foi redescoberta por Simon & Magnago (2013) no norte do Espírito Santo. Na Bahia o M. mintoni ficou sem registros por oito décadas, até que foi redescoberto por Magnago (2014) na Reserva da Veracel, em Santa Cruz Cabrália/BA.

A redescoberta do M. mirandollei demonstra também a importância que os observadores de aves e o Wikiaves têm para a ciência, registrando espécies raras e ameaçadas, contribuindo com o conhecimento e a conservação de muitas espécies brasileiras - a chamada ciência-cidadã.

A provável população de M. mirandollei da Mata Atlântica certamente está seriamente ameaçada de extinção, confinada nos poucos remanescentes florestais do Espírito Santo e Bahia, que formam verdadeiras “ilhas de biodiversidade”, refúgios de toda a fauna e flora da região.

Tanatau (Micrastur mirandollei) fotografado em Linhares/ES. Foto de: Wagner Coppede.
Mapa da área de ocorrência do tanatau (Micrastur mirandollei) no Brasil.
Seta vermelha indica a região do registro.

Curiosidade - A região do registro é popularmente chamada de “Amazônia capixaba”, e não é à toa, pois na área ocorre uma série de aves tipicamente amazônicas, dentre elas o falcão-críptico (Micrastur mintoni) e o gavião-ripina (Harpagus bidentatus). De acordo com alguns autores, a ocorrência dessas espécies nesta região sugere que ambos os biomas estiveram interligados no passado.


Link do registro fotográfico publicado no Wikiaves:

Artigo sobre as aves de rapina da Mata Atlântica:

Artigo sobre a redescoberta do falcão-críptico (M. mintoni) na Mata Atlântica:

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