Jovem gavião-miúdo (Accipiter striatus) aprendendo a caçar. Foto: Willian Menq. |
*por: Willian Menq.
A aprendizagem de caça começa cedo na vida de um rapinante. Ainda no ninho, o filhote recebe presas inteiras dos pais. Assim, aprende a reconhecer as espécies que fazem parte de sua dieta e também a dilacerar e rasgar suas presas.
A aprendizagem de caça começa cedo na vida de um rapinante. Ainda no ninho, o filhote recebe presas inteiras dos pais. Assim, aprende a reconhecer as espécies que fazem parte de sua dieta e também a dilacerar e rasgar suas presas.
A verdade é que as aves de rapina
já possuem muitos dos seus métodos de caça e dieta implantados em seu DNA. Indivíduos
jovens podem executar uma sequência completa de caça mesmo sem nunca ter caçado
antes.
Porém, mesmo que as aves apresentem um comportamento de caça inato, isso é apenas uma parte do processo. Do mesmo modo que um jovem necessita treinar e exercitar as asas para tornar-se um hábil voador, o mesmo acontece com os métodos de caça, onde é necessário muito treino e experiência para que suas habilidades de caça se desenvolvam.
Porém, mesmo que as aves apresentem um comportamento de caça inato, isso é apenas uma parte do processo. Do mesmo modo que um jovem necessita treinar e exercitar as asas para tornar-se um hábil voador, o mesmo acontece com os métodos de caça, onde é necessário muito treino e experiência para que suas habilidades de caça se desenvolvam.
Desenvolvendo as habilidades motoras - Logo que aprendem a voar, rapinantes
jovens de determinadas espécies têm oportunidade de “brincar” com seus próprios
irmãos, executando perseguições e acrobacias nos arredores do ninho, como forma
de desenvolver suas habilidades motoras, condicionamento e treinamento do
comportamento predatório. Em Maringá/PR, já tive oportunidade de observar dois
jovens gaviões-miúdo (Accipiter striatus) brincando de ”pega-pega”, perseguindo um ao outro em um parque da cidade (artigo publicado na AO 179). Essas brincadeiras
entre os irmãos normalmente são amistosas, sem evidências de agressão, às vezes com inversões de papéis, o que
descartaria interpretações de uma possível interação agonística, como a de competição ou
predação.
Por outro lado, jovens que normalmente crescem sem irmãos
(situação que ocorre na maioria dos accipitrídeos), treinam contra potenciais presas ou até com outros
animais. Não são raros por exemplo, relatos de falcões-peregrinos (Falco peregrinus)
perseguindo urubus (Coragyps atratus) por "brincadeira", sem a intenção de atingir ou capturar a ave. Por vezes, até
indivíduos adultos realizam essas brincadeiras contra outros animais para
aprimorar suas técnicas ou apenas por pura “diversão”.
Outra forma de aprender e/ou descobrir novos métodos de caça é a aprendizagem por observação. Indivíduos jovens podem observar uma situação de caça de um outro rapinante (da mesma espécie ou não) e tentar replicar o comportamento. Um jovem falcão-relógio (Micrastur semitorquatus), por exemplo, ao observar sua mãe seguindo formigas-de-correição e capturando uma ave atraída pelos insetos, provavelmente se lembrará e replicará o comportamento de associação ao se deparar com as formigas na natureza.
As primeiras experiências de caça - Assim que os jovens tornam-se independentes, começam a ter suas primeiras experiências reais de caça. O problema é que nem
sempre a ave tem noção de quais presas possuem melhor relação custo-benefício,
ou dos perigos que uma determinada presa pode apresentar diante uma investida
mal sucedida. Um acauã (Herpetotheres cachinnans), por exemplo, pode ir
a óbito se executar um movimento errado durante um ataque contra serpentes
peçonhentas; um gavião-bombachinha-grande (Accipiter bicolor) poderia
ter seu olho perfurado durante uma reação inesperada de pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus
lineatus), ou ficar vulnerável a um outro predador em solo com
os gritos agonizantes da presa.
Desse modo, o índice de
mortalidade no primeiro ano de vida de um rapinante é elevado. Segundo Fox
(1995), cerca de 60% dos jovens podem morrer nesse período, em sua maioria por fatores relacionados ao pouco êxito das caçadas.
Na medida em que as aves se
tornam adultas, melhoram e diversificam suas estratégias de caça, mudando de um
método para o outro conforme a situação. Aprendem a julgar corretamente as
reações e as distâncias de suas presas, assim como aprendem a reconhecer uma
oportunidade (ou o tempo certo) favorável a uma investida.
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